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11 Abr. 1

Exposição - FATA MORGANA, de Andreia Tocha

Exposição patente de 11 de Abril a 10 de Maio

FATA MORGANA

UMA MIRAGEM BORDALIANA DE ANDREIA TOCHA

Esta Exposição mostra o mais recente trabalho da artista Andreia Tocha (1977), partindo da cerâmica bordaliana, conduz o seu trabalho sobre a luz num outro sentido da visão. A lente e o espelho permitem a multiplicação fragmentada dos coloridos cacos bordalianos oferecendo-nos uma imagem óptica diferente.

Dando continuidade à sua preocupação com os materiais, neste caso usando desperdícios cerâmicos de produção industrial (Fábrica Bordallo Pinheiro), a artista reutiliza-os encontrando um caminho original. Trata-se de uma leitura caleidoscópica no painel, ou multiplicada nas caixas dos “ninhos ópticos”, proporcionando uma nova narrativa sobre a cerâmica naturalística caldense. Surgem pedaços de irrealidade, suscitados pelo movimento do olhar ou pela curiosidade individual de espreitar. Uma intimidade poética que pode (ou não) ser partilhada na descoberta, algo lúdica, de outros lugares ópticos.     

 Na construção desta paisagem óptica pessoal, Tocha usou a repetição de peças vegetais habitadas por animais do campo, da horta e do mar, recorrente gramática bordaliana. Mas, este mundo naturalístico de couves e frutos e animais é desconstruído pelo jogo complexo da luz, na lente ou no espelho. A diferença de escalas assumida e a pose estática, agora multiplicadas, podem indiciar uma visão humorística.

Outra lente usou o artista Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) na sua obra cerâmica e gráfica: o monóculo! Através dele observou até ao pormenor, num gosto naturalista, conforme a sua geração artística assim lhe pedia. Mas também, tantas vezes, aumentando aspectos da figura até à caricatura, em desenho e no barro. De acordo com a sua vontade de fazer humor, o artista brincou com as escalas, usando ainda o mesmo monóculo para o sobredimensionamento ou, em sentido inverso, na miniaturização das personagens e dos objectos.

Mas, também ao espelho Rafael Bordalo se viu, em mil autorrepresentações publicadas nas páginas dos seus jornais, d’A Lanterna Mágica até à A Paródia, divertindo-se com as deformações provocadas. Ainda, na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884), o artista autorrepresentou-se em barro, usando diversas escalas e, sempre, tirando partido do humor.    

Tocha e Bordalo partilham este gozo pessoal de sala de espelhos ou lentes que alteram o real, provocando o outro. Se em Bordalo os seus animais (e os vegetais) não escaparam à antropomorfização, colocando-os em atitudes do quotidiano humano, em Tocha vemos os animais ao espelho “em casa alheia”, insinuando personalidades. Nós, ao entramos no seu jogo privado, nos vamos denunciando, pelo desafio do riso íntimo.

Pedro Bebiano Braga*

 *Investigador do Museu Bordalo Pinheiro/CMLisboa 

 

BIOGRAFIA

Andreia Tocha  (1977), vive e trabalha em Lisboa. Estudou design industrial e concluiu a sua licenciatura no ano de 2003.

Chamada de “untitled artist”, pelas suas múltiplas facetas, tem vindo a explorar a luz e os seus efeitos no seu trabalho. Um dos primeiros e mais marcantes temas que desenvolveu foi objetos de luz, os quais assentam no conceito “das coisas nascem coisas”, apresentados na exposição de design “Elogio da Sombra” (Lisboa, 2011). Continuou a desenvolver os seus projectos em instalações, como “Precisão Arbitrária” (Megarim-adn, Lisboa, 2012) e “Os Abanicos” (Centro de Artes de Sines, 2013); ou em “Super Súber”, design de mobiliário em cortiça (no âmbito da Experimenta Design, na Galeria Bessa Pereira, Lisboa 2013). Tem participado em diversas exposições colectivas em Portugal e Espanha.